Publicado em: 00/00/0000

A controvérsia! De um lado os defensores da saída de bola longa, do outro os defensores da saída de bola curta.


Seja no tiro de meta, seja na sequência de livres favoráveis ainda nas imediações da nossa grande área, a verdade é que as saídas de bola são um dos comportamentos técnico-táticos mais controversos do mundo do futebol.


Há quem considere um risco sair a jogar curto desde trás e prefira mandar avançar as linhas, indicando ao seu goleiro uma reposição de bola através do lançamento longo para uma determinada referência, seja ela zonal (zona do campo onde o adversário ganha menos duelos aéreos, por exemplo), seja ela individual (procura do melhor cabeceador ou do jogador mais alto, para que este possa “cabecear” a bola e solicitar a entrada de jogadores vindos de trás).


Respeito essa opção, seja porque o Treinador considera a sua linha defensiva incapaz de sair a jogar curto com qualidade ou sob pressão, seja porque, mesmo havendo qualidade, prefira não se expor ao risco. Respeito, mas relembro que um dos deveres do Treinador é potencializar os seus jogadores e dotá-los de mais e melhores “opcões” para o presente e para o futuro. Independentemente do patamar competitivo e dos objetivos do clube, o treinador deve fazer com que os seus jogadores melhorem e terminem a temporada com mais capacidades do que quando começaram.


No sentido oposto, há quem considere que a saída de bola longa, por mais trabalhada que seja, um risco ainda maior. Como muitos já afirmaram, quando a bola está no ar nunca existe a certeza de quem a vai ganhar. Surge então o jogo de “primeiras e segundas bolas” que, por vezes, mais parece uma espécie de jogo que não garante domínio nem controle a qualquer uma das equipes, pois nem sempre é possível vencer todos os duelos aéreos.

Somos sabedores de que, de ambos os lados, existem razões e argumentos válidos para sustentar as preferências e opções de cada um, a verdade é que todos nós somos influenciados por aquilo que somos e por aquilo que experienciamos ao longo da vida enquanto treinadores.


Por experiência de ter tido treinadores que perceberam a importância de termos mais bola do que o adversário também foi muito importante, pois começou aí o processo de identificação que anos mais tarde veio a ser a base de muitas das minhas idéias.


Daí termos optado mais pela saída de bola de curta e apoiada. Por uma questão de crença e convicção. Por uma questão de marca de trabalho também. Embora a tarefa fosse difícil, acreditávamos ser possível ajudar os jogadores a desenvolver novos skills, desde a leitura de jogo ao rodar do pescoço, passando pela orientação dos apoios e pela cabeça levantada, entre outros detalhes. Tudo isso assente em posicionamentos que permitissem e privilegiassem comportamentos associativos, os quais iriam fomentar uma viagem conjunta, segura e equilibrada quer na fase ofensiva, ou no momento de reação à perda.


No meio de tantos fatores que não conseguímos controlar durante um jogo de futebol, acreditamos sempre que devíamos apostar naquilo que era possível de ser trabalhado para posteriormente poder vir a ser controlado.


O caminho para estes momentos foi longo e árduo. Por cada passe interior, por cada movimento de aproximação no timing certo, por cada contra movimento ou dinâmica do 3º homem houve perdas de bola em zonas comprometedoras, apoios mal orientados, passes errados, recepções que deram origem a contra-ataques e mais alguns desafios de crescimento que fizeram parte do processo.

Ficou a certeza de que as saídas de bola curta e apoiada realmente nos protegiam e beneficiavam. Porque havia a certeza e a segurança de que estávamos a fazer aquilo que nos competia para evoluirmos individual e coletivamente. Porque sabíamos que o domínio e o controle do nosso jogo progredia neste tipo de saída.

E embora todas as saídas de bola sejam válidas no futebol, no que diz respeito à escolha de cada um, o que importa é que a mesma seja coerente com as suas idéias, com os seus ideais e com as suas ações. No mais é treino, é trabalho e será sempre futebol.


Referência: Laurindo Filho.

Coach saída curta desde trás? Porquê?